Roma, 534 a.C.
Lúcio Tarquínio, pressionado pela esposa Túlia após a duplo assassinato que cometera, procurou angariar o apoio dos senadores (especialmente aqueles nomeados por seu avô, que sentiam gratidão pela família) para dar um golpe contra o rei Sérvio Tullio. Quando julgou que era hora de agir, irrompeu no fórum escoltado por grupo armado e assumiu o trono diante da Cúria. Mandou um arauto convocar todos os senadores para comparecerem diante dele. Chegaram imediatamente: alguns já preparados para a situação, outros por medo das consequências de faltarem.
Tarquínio dirigiu-se a eles com veemência. Acusou Servio de ser escravo filho de uma escrava, de ter subido ao trono sem respeitar a tradição — isto é, sem interregno, sem voto do povo e sem ratificação dos senadores. Alegou estar ocupando o trono de seu pai, e que era preferível estar com ele do que com um escravo.
Em meio a estas acusações, Servio irrompeu na Cúria gritando contra ele e pedindo explicações. Tarquínio replicou que estava ocupando o trono de seu pai, e que o filho de um rei era herdeiro muito mais legítimo que um escravo. Então, favorecido pela idade e pelo maior vigor físico, agarrou Servio na altura da cintura e o lançou pelas escadas abaixo da Cúria.
Cheio de ferimentos, Servio tentava arrastar-se de volta ao palácio quando foi alcançado e assassinado pelos sicários de Tarquínio, que o seguiam. Reza a lenda que Túlia, nesse momento, passava de carruagem pela estrada quando o cocheiro parou os cavalos com um golpe e indicou à patroa o cadáver de Servio abandonado no chão. Ela, vendo-o, mandou passar com o carro por cima do corpo de seu próprio pai. A rua guardou desde então o nome de Via do Crime (Vicus Sceleratus).
Com a morte violenta de Servio Tullio após quarenta e quatro anos de reinado, iniciou-se o governo de Lúcio Tarquínio, apelidado de O Soberbo. Mal subira ao trono, Tarquínio negou a Servio o sepultamento — alegando que Rômulo também não fora sepultado — e mandou eliminar os senadores mais importantes, suspeitos de o terem apoiado. Com medo de que sua ascensão indevida ao trono se tornasse motivo de ataques, cercou-se de guardas pessoais.
Não podendo contar de forma alguma com o apoio dos cidadãos, era forçado a salvaguardar seu poder com o terror. Mandava para a prisão e para o exílio não apenas os criminosos, mas também seus inimigos e todos aqueles que representavam alguma oportunidade de saque. Ademais, depois de ter diminuído o número dos senadores, estabeleceu que não se elegessem outros, e não consultava para nada o senado, rompendo com o costume até então obedecido. Governava o Estado baseando-se apenas nos conselhos de familiares.
Para que o apoio estrangeiro lhe desse maior segurança em sua pátria, Tarquínio, o Soberbo, fez-se amigo dos latinos, estabelecendo relações de hospitalidade e casamentos. Assim se extinguia a figura do monarca justo e legítimo. Roma, que conhecera reis fundadores, religiosos e expansionistas, experimentaria agora o governo de um tirano.