c. 771 a.C. – 715 a.C.
Rômulo nasceu por volta de 771 a.C. em Alba Longa, segundo a tradição romana consolidada por autores como Tito Lívio e Plutarco. Filho de Reia Sílvia, sacerdotisa vestal, e do deus Marte conforme a lenda, foi salvo do infanticídio ordenado pelo tirano Amúlio junto com seu irmão gêmeo Remo. Abandonados nas águas do Tibre, foram encontrados e salvos pelo pastor Faustolo e sua esposa.
Quando atingiu a idade adulta, Rômulo demonstrou as qualidades que o tornariam um líder excepcional: coragem, inteligência estratégica e capacidade de organização. Junto com Remo, descobriu sua verdadeira identidade e liderou uma revolta que derrubou Amúlio, restaurando seu avô Numitori ao trono legítimo de Alba Longa. Decidindo fundar uma nova cidade, escolheu o sítio do monte Palatino, onde havia sido salvo da morte, para edificar a futura Roma.
A fundação de Roma em 753 a.C. marcou o início do reinado de Rômulo, mas também envolveu o episódio trágico da morte de Remo, que questionou a autoridade do irmão ao saltar desrespeitosamente sobre o sulco sagrado do pomerium (limites da cidade). O fratricídio cometido por Rômulo estabeleceu a inviolabilidade das fronteiras urbanas e da autoridade régia.
Como primeiro rei, Rômulo enfrentou o desafio monumental de transformar um punhado de refugiados e aventureiros numa comunidade organizada. Criou o Senado com cem patres escolhidos entre os homens mais respeitados, estabeleceu as primeiras leis e instituiu o sistema de cúrias que dividiria o povo para fins militares e políticos.
O reinado de Rômulo caracterizou-se pela expansão territorial e pela integração de povos diversos. Reconhecendo que Roma precisava de mulheres para garantir sua continuidade, organizou os famosos jogos durante os quais ocorreu o rapto das Sabinas, estratagema audacioso que, embora controverso, resultou na união pacífica entre romanos e sabinos. Este episódio demonstra a genialidade política de Rômulo: longe de ser mera violência, o "rapto" transformou-se em casamentos legítimos que dobraram a população romana e criaram laços permanentes entre os dois povos. A mediação das próprias mulheres sabinas durante a Guerra contra os Sabinos converteu um conflito potencialmente destrutivo numa aliança duradoura.
As fontes antigas concordam em descrever Rômulo como um homem de caráter vigoroso e organizador, dotado da capacidade rara de impor ordem a uma massa heterogênea de pessoas. Sua religiosidade manifestava-se não apenas no cumprimento dos ritos, mas na compreensão profunda de que uma cidade necessita de proteção divina para prosperar. Estabeleceu os primeiros templos e santuários, criando o quadro religioso dentro do qual Roma cresceria. Sua justiça era severa mas equitativa, tratando cidadãos e estrangeiros segundo leis claras que ele mesmo havia promulgado.
A morte e divinização de Rômulo ocorreu de forma tão extraordinária quanto sua vida. Durante uma tempestade súbita, enquanto passava revista às tropas no Campo de Marte, simplesmente desapareceu. Os senadores presentes relataram tê-lo visto ser elevado aos céus numa nuvem, interpretando o fenômeno como apotheose — sua transformação em divindade. Posteriormente, um cidadão romano chamado Proculus Júlio declarou ter recebido uma visão de Rômulo divinizado, agora chamado Quirino, que prometia a Roma um destino imperial único no mundo.