Tarquínio, o Soberbo

Nascimento e Morte

c. 564 a.C. – 495 a.C.

Descrição
Feitos
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Lúcio Tarquínio nasceu por volta de 564 a.C., filho de Tarquínio Prisco e da rainha Tanaquil. Cresceu no palácio real de Roma, onde testemunhou o assassinato do próprio pai — golpeado por dois pastores a mando dos filhos de Ancus Marcius. Enquanto o rei agonizava, sua mãe Tanaquil, mulher astuta e de forte personalidade política, orquestrou a ascensão de Servio Túlio ao trono, relegando Lúcio e seu irmão Arrunte a uma posição secundária no cenário político romano.

O jovem Tarquínio carregava desde cedo o ressentimento de ter sido privado do trono paterno. Servio, ciente da tensão latente, tentou apaziguá-la através de alianças matrimoniais: casou suas duas filhas com os dois príncipes Tarquínios. Túlia, a irmã de temperamento mais violento, havia sido dada em casamento a Arrunte, enquanto Lúcio casara-se com a irmã mais dócil. No entanto, a afinidade mútua entre Lúcio Tarquínio e Túlia logo os aproximou, e desenvolveu-se um caso extraconjugal. Conspiraram então para eliminar os próprios cônjuges, consumando rapidamente o duplo assassinato e contraindo matrimônio entre si. A partir daquele momento, passaram a conspirar para assumir o trono.

Depois de angariar o apoio de parte dos senadores, Tarquínio irrompeu no fórum escoltado por um grupo armado e apossou-se do trono diante da Cúria, convocando os senadores através de arauto. Quando Servio Túlio chegou e indagou com que autoridade convocava o senado e se assentava em seu trono, Tarquínio respondeu ocupar o lugar de seu pai, declarando que era preferível estar com ele do que com "um escravo". Favorecido pela idade e pelo vigor físico, agarrou o sogro e lançou-o escadas abaixo. O rei ferido tentou arrastar-se de volta ao palácio, mas foi alcançado e assassinado pelos sicários de Tarquínio.

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Assim começou o reinado que seria lembrado pela posteridade com o epíteto de "Soberbo". Negou a Servio o sepultamento e fez eliminar os senadores mais importantes que o haviam apoiado. Sem poder contar com o apoio dos cidadãos, cercou-se de guardas pessoais e salvaguardou o poder através do terror. Mandava para a prisão e para o exílio não apenas criminosos, mas também inimigos políticos e todos aqueles cujas propriedades despertavam sua cobiça. Diminuiu drasticamente o número de senadores e estabeleceu que não se elegessem outros, rompendo com o costume até então respeitado de consultá-los sobre as decisões de Estado — governava baseando-se apenas nos conselhos de familiares.

Para compensar a fragilidade de sua posição interna, buscou apoio externo. Estabeleceu relações de hospitalidade e casamentos com a aristocracia latina, alcançando rapidamente posição de influência entre eles. Quando convocou uma reunião para discutir assuntos de interesse comum, chegou apenas ao pôr-do-sol, provocando a ira de Turnus Erdonio, que o atacou publicamente. Tarquínio respondeu com um estratagema: fez um escravo de Turnus introduzir armas secretamente em sua casa durante a noite e, na manhã seguinte, acusou-o de conspiração diante dos líderes latinos. As armas foram encontradas, e Turnus foi afogado na nascente Ferrentina sem sequer poder defender-se. Depois disso, persuadiu os latinos a renovarem o antigo tratado pelo qual toda a nação albana e suas colônias haviam sido anexadas a Roma.

Suas guerras foram marcadas pela astúcia. No cerco a Gabi, depois de encontrar resistência prolongada, enviou seu filho mais jovem, Sexto Tarquínio, que se refugiou na cidade fingindo ter fugido da crueldade paterna. Gradualmente conquistou a confiança dos habitantes até receber o comando geral das operações militares. Quando quis saber do pai como deveria proceder, o rei, em silêncio, caminhou pelo jardim decapitando papoulas com uma varinha. Compreendendo o gesto, Sexto eliminou sistematicamente os líderes de Gabi até que a cidade, sem direção e sem recursos, rendeu-se sem resistência.

Empreendeu obras públicas monumentais, cumprindo a promessa de seu pai de construir um templo a Júpiter no monte Tarpeio. Durante as escavações das fundações, foi descoberta a cabeça de um homem com traços faciais intactos — os adivinhos interpretaram o prodígio como sinal de que aquele ponto se tornaria a cidadela do império e a capital do mundo. Os exorbitantes gastos com o templo e outras construções urbanísticas forçavam-no a fazer contínuas guerras para obter o saque necessário aos empreendimentos.

Foi durante o cerco a Ardea que ocorreu o episódio fatal de seu reinado. No acampamento, seus filhos passavam o tempo em festas e bebidas quando surgiu uma competição sobre qual dos presentes tinha a esposa mais virtuosa. Montaram a cavalo para verificar pessoalmente: em Roma, as noras do rei foram surpreendidas em meio a festividades, enquanto em Collatia encontraram Lucrécia ocupando-se silenciosamente com suas lãs. Sexto Tarquínio, tomado por insana obsessão, retornou dias depois e a violou sob ameaça de morte e desonra. Lucrécia convocou o pai e o marido, revelou-lhes o ultraje e, após fazê-los jurar vingança, cravou uma faca em seu coração.

Lúcio Júnio Brutus, que acompanhara a comitiva, retirou a faca da ferida e jurou pelo sangue de Lucrécia que perseguiria o rei e toda sua família. Levaram o corpo ao fórum de Collatia, onde Bruto exortou o povo a pegar em armas. A revolta espalhou-se rapidamente: quando Tarquínio, informado dos eventos, retornou de Ardea para Roma, encontrou as portas do palácio fechadas e a notícia do exílio comunicada. Brutus, por outro lado, foi recebido com entusiasmo pelos homens no acampamento, que expulsaram os filhos do rei. Sexto Tarquínio partiu para Gabi, onde foi assassinado em vingança dos massacres passados.

Lúcio Tarquínio Soberbo reinou por vinte e cinco anos. Retirou-se para Caere, na terra etrusca, onde viveu no exílio tentando em vão recuperar o trono através de alianças e guerras. Morreu por volta de 495 a.C., longe da cidade que governara pela força e perdeu pela tirania. Com ele extinguiu-se a monarquia romana, que desde a fundação até sua queda durara duzentos e quarenta e quatro anos. A assembleia das centúrias elegeu dois cônsules — Bruto e Colatino — inaugurando a República.