Roma, c. 580 a.C.
Durante o reinado de Tarquínio Prisco, o palácio real testemunhou um prodígio notável que mudaria o destino de Roma. Quando a cidade de Corniculo caiu diante das forças romanas, Ocrísia, a esposa de Tulli (o rei da cidade que foi morto durante o cerco), foi levada a Roma junto com outras prisioneiras. Estava grávida. A rainha Tanaquil reconheceu nela sinais de nobreza e, descobrindo suas origens, ao invés de permitir que se tornasse uma escrava comum, acolheu-a no palácio real e autorizou que ali desse à luz seu filho, que recebeu o nome de Servio Tullio.
Reza a lenda que, durante uma noite, muitos no palácio viram a cabeça do menino Servio envolta em chamas enquanto dormia. A gritaria e o desespero para apagar o fogo acordaram toda a residência real e chamaram a atenção da família de Tarquínio. Tanaquil, porém, impediu que perturbassem a criança. Observou cuidadosamente o fenômeno e, quando o menino acordou naturalmente, as chamas se extinguiram sem lhe causar qualquer dano.
A rainha tomou o marido à parte e revelou sua interpretação: o fogo fora um presságio dos deuses. Disse-lhe que aquele menino, criado na obscuridade como filho de uma prisioneira de guerra, estava destinado a ser "luz nas trevas e apoio à casa real em tempos difíceis". Por isso, deveria ser tratado com distinção especial e educado como membro da família real.
A partir daquele momento, Tarquínio e Tanaquil trataram Servio como filho. Educaram-no nobremente, proporcionando-lhe a formação adequada à sua condição de futuro líder. O jovem cresceu no palácio, desenvolvendo as qualidades que confirmariam o presságio de sua infância.
Depois de quase trinta e oito anos desde o início do reinado de Tarquínio, quando o rei teve que escolher um genro entre os jovens de Roma, escolheu Servio Tullio e deu-lhe sua filha em casamento. Naquele momento, Servio havia conquistado a total estima do rei, dos senadores e do povo — homem que, nascido de uma prisioneira de guerra, ascendera à posição mais próxima do trono através de suas virtudes pessoais e do favor divino manifestado no prodígio de sua infância.