Roma, 753 a.C.
Após o episódio em que Rômulo e Remo descobriram sua origem real e depuseram o tirano Amúlio, restaurando o avô Numitori ao trono de Alba Longa, os gêmeos sentiram o desejo de fundar uma cidade no lugar onde haviam sido abandonados e criados. Muitos dos pastores e jovens que lutaram ao seu lado os seguiram, formando o núcleo populacional da nova fundação.
A decisão de fundar uma cidade, contudo, suscitou imediatamente a questão do poder: qual dos dois irmãos deteria a autoridade sobre a urbe nascente? Impossibilitados de resolver a disputa pela primogenitura — pois eram gêmeos — recorreram aos augúrios divinos para determinar quem deveria comandar. Remo posicionou-se no Aventino, enquanto Rômulo ocupou o Palatino, e ambos aguardaram os sinais dos deuses.
Remo foi o primeiro a receber um augúrio: seis abutres. Logo em seguida, porém, Rômulo avistou doze. Os partidários de cada irmão reivindicaram a vitória: uns alegavam a precedência temporal do presságio de Remo, outros argumentavam a superioridade numérica das aves observadas por Rômulo. A disputa verbal escalou para confronto físico. No tumulto que se seguiu, Remo foi morto — embora as circunstâncias exatas permaneçam incertas na tradição.
Rômulo apossou-se então do poder exclusivo. A cidade recém-fundada, no ano de 753 a.C., recebeu o nome de seu fundador: Roma. Estabeleceu as primeiras fortificações e traçou o pomerium, o limite sagrado que demarcava a urbe. À medida que a cidade crescia em estrutura física, passou a atrair atenção das populações circunvizinhas. Uma massa heterogênea de pessoas — sem distinção entre livres e escravos, todos ávidos por novas oportunidades — migrou para Roma, engrossando rapidamente sua população.
Para organizar o governo da nova comunidade, Rômulo elegeu cem senadores, que assumiram o título de "pais" (patres). Seus descendentes foram designados patrícios, estabelecendo assim a origem da aristocracia romana e a estrutura política fundamental que caracterizaria Roma nos séculos seguintes.