Conquista de Gabi

Gabi, c. 520 a.C.

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Dentre as guerras que Tarquínio, o Soberbo, empreendeu, a conquista da cidade de Gabi destacou-se não pela força das armas, mas pela astúcia do estratagema empregado — método que exemplifica perfeitamente os meios pelos quais o tirano governava.

Encontrando dificuldades em vencer Gabi pela força militar, Tarquínio recorreu ao engano. Instruiu seu filho mais jovem, Sexto Tarquínio, a refugiar-se na cidade fingindo ser vítima da crueldade paterna. Sexto deveria apresentar-se como desertor que fugia da tirania do próprio pai.

Ao chegar a Gabi, Sexto queixou-se publicamente do tratamento excessivamente cruel que o pai lhe dispensava. Contava que Tarquínio, depois de atormentar os súditos romanos com sua tirania, havia começado a voltar a mesma crueldade contra os próprios filhos, desejando não deixar qualquer herdeiro ao trono. Alegava que sua vida corria perigo constante em Roma e que estava convencido de que em nenhum lugar estaria tão seguro como entre os inimigos de seu pai.

Os habitantes de Gabi, acreditando na sinceridade de Sexto e vislumbrando vantagem estratégica em ter o filho do tirano ao seu lado, receberam-no de braços abertos. Gradualmente, Sexto foi admitido às reuniões de governo. Falava de guerra como grande especialista, compartilhando supostos conhecimentos sobre as estratégias e fraquezas do exército romano. Pessoalmente liderou algumas ações de guerrilha contra forças romanas, obtendo sucessos que consolidaram sua reputação.

A confiança da elite de Gabi cresceu a ponto de, no final, confiarem-lhe o comando geral das operações militares. Sexto alcançara posição de poder absoluto na cidade que inicialmente o acolhera como refugiado.

Quando percebeu que tinha poder suficiente para executar a segunda fase do plano, Sexto enviou mensageiro secreto a Roma para perguntar ao pai o que deveria fazer. Tarquínio, pela pouca confiança que o mensageiro inspirava, não lhe confiou resposta verbal. Ao invés disso, dirigiu-se ao jardim do palácio e, em silêncio, caminhando de um lado para o outro, começou a decapitar as papoulas mais altas com uma varinha.

O mensageiro, sem compreender o gesto enigmático, retornou a Gabi e contou a Sexto tudo o que havia presenciado. Para Sexto, contudo, ficou claro o que o pai queria dizer com aquele gesto simbólico: deveria eliminar os líderes mais proeminentes da cidade, decapitando-os como seu pai decapitara as papoulas.

Sexto executou a ordem sistematicamente. Alguns líderes foram acusados publicamente diante do povo, aproveitando-se da posição de confiança que conquistara. Outros, cujas acusações públicas seriam difíceis de sustentar, foram assassinados em segredo. Muitos foram exilados. As propriedades de todos os eliminados foram confiscadas e distribuídas, comprando assim o apoio da população através do interesse particular.

O povo de Gabi, preocupado apenas com os ganhos materiais imediatos, perdeu o sentido do desastre em que a cidade havia caído. Sem liderança, sem recursos e sem direção, Gabi finalmente se rendeu nas mãos de Tarquínio sem oferecer resistência. A conquista estava completa — não pelas armas, mas pelo estratagema que se tornaria proverbial como exemplo de perfídia tirânica.