Roma, c. 515 a.C.
Lembrando que seu avô, Tarquínio Prisco, havia prometido construir um templo a Júpiter no monte Capitolino durante a batalha contra os sabinos, Tarquínio, o Soberbo, decidiu cumprir aquela promessa antiga. A obra seria grandiosa, digna da importância crescente de Roma e capaz de rivalizar com os templos magníficos das cidades etruscas.
Para preparar o terreno, foi necessário deslocar diversos santuários menores que ocupavam o monte. Todos foram transferidos sem dificuldade, exceto o templo da deusa Terminus (divindade dos limites e fronteiras), cujos augúrios recusaram-se a permitir a mudança. Este sinal foi interpretado como presságio favorável: indicava que nada reduziria os limites de Roma, cuja expansão seria perpétua.
Durante as escavações das fundações do templo, os trabalhadores descobriram uma cabeça humana com os traços faciais completamente intactos, como se tivesse sido recentemente decepada. O achado causou espanto e foi imediatamente reportado a Tarquínio. O rei consultou os adivinhos etruscos, especialistas na interpretação de prodígios. Estes declararam que o sinal era inequívoco: aquele ponto se tornaria a cabeça (caput) da cidadela do império e a capital do mundo (caput mundi). O monte passou desde então a chamar-se Capitólio, derivado de caput (cabeça).
A construção do templo exigia recursos imensos. A estrutura seguia o modelo etrusco, com três celas internas dedicadas a Júpiter, Juno e Minerva — a tríade capitolina que se tornaria central no culto romano. Os exorbitantes gastos com o templo e com outras construções urbanísticas que Tarquínio empreendia simultaneamente forçavam o rei a fazer contínuas guerras para obter o saque necessário aos seus empreendimentos. O povo romano, sobrecarregado com o trabalho forçado nas obras públicas e esgotado pelas campanhas militares constantes, começava a murmurar contra o tirano.
O templo de Júpiter Capitolino, contudo, seria concluído apenas após a queda de Tarquínio, já no início da República. Tornar-se-ia o centro religioso supremo de Roma, local onde os generais vitoriosos depositavam seus troféus e onde se celebravam os triunfos.