Roma, c. 750 a.C.
Roma crescia rapidamente em poder militar, tornando-se capaz de competir com qualquer povo dos arredores. Em pouco tempo, as fortificações se ergueram e a população se multiplicou com a chegada contínua de imigrantes. A cidade enfrentava, contudo, um problema demográfico que ameaçava sua continuidade: a imensa maioria dos habitantes era composta por homens, e a escassez de mulheres punha em risco a geração futura e, portanto, a própria sobrevivência de Roma.
Rômulo mandou representantes aos povoados vizinhos a fim de negociar alianças matrimoniais entre os povos. A proposta era estabelecer vínculos que assegurassem não apenas a perpetuação demográfica de Roma, mas também relações políticas duradouras com as comunidades da região. Todos os povos, porém, negaram a proposta. O temor diante do rápido crescimento dos romanos superava qualquer vantagem que pudessem vislumbrar na aliança. Os vizinhos preferiam manter Roma isolada a fortalecer ainda mais aquela cidade emergente.
Diante das recusas, Rômulo arquitetou um estratagema. Organizou jogos solenes em homenagem a Netuno e enviou convites a todos os povos circunvizinhos. A novidade do espetáculo e a curiosidade em conhecer a nova cidade atraíram multidões. Entre os que acorreram estavam os sabinos com suas famílias, incluindo numerosas mulheres e jovens.
Quando chegou o momento do espetáculo e todos estavam absortos na contemplação dos jogos, sob um sinal previamente combinado, os jovens romanos irromperam em todas as direções para raptar as mulheres presentes. A surpresa foi absoluta. Os pais e familiares das jovens, tomados de pânico e indignação, fugiram sem conseguir reagir, lançando imprecações contra os romanos por terem violado as leis da hospitalidade.
As mulheres raptadas, contudo, não foram reduzidas à condição de escravas ou concubinas. Rômulo percorreu pessoalmente os grupos de mulheres, explicando-lhes que o rapto decorria da arrogância de seus pais, que haviam negado as alianças matrimoniais propostas. Assegurou-lhes que seriam tratadas como legítimas esposas: compartilhariam dos bens, da cidadania e dos filhos de seus maridos, desfrutando de todos os direitos que a condição de esposa romana conferia.
Os próprios romanos, por sua vez, cortejaram as mulheres com palavras suaves, alegando que o rapto fora motivado pela paixão e pelo desejo — argumentos que, segundo Tito Lívio, têm grande poder de persuasão sobre o coração feminino. Com o tempo, a raiva inicial das jovens raptadas se aplacou. Muitas efetivamente se integraram à vida romana, aceitando seus novos maridos e estabelecendo vínculos que, em breve, seriam postos à prova quando seus pais e irmãos marchassem contra Roma em busca de vingança.