c. 703 a.C. – 641 a.C.
Tullo Hostílio nasceu por volta de 703 a.C. em Roma, sendo neto de um herói que se distinguira nas batalhas contra os sabinos durante o reinado de Rômulo. Esta linhagem guerreira moldou profundamente seu caráter, preparando-o para se tornar o mais belicoso dos reis romanos. Diferentemente de seus antecessores, Tullo cresceu numa época em que Roma já estava estabelecida como potência regional, mas ele acreditava firmemente que a paz prolongada enfraquecia o espírito militar que constituía a essência da grandeza romana.
Após a morte de Numa Pompílio em 673 a.C., Roma enfrentou novamente um período de interregno. A eleição de Tullo Hostilium representou uma mudança radical de rumo político: enquanto Numa havia sido o rei da paz e da religião, Tullo personificava o retorno aos valores militares fundacionais. Eleito pelo senado e pelo povo, assumiu o trono determinado a reativar as virtudes guerreiras que julgava essenciais à sobrevivência romana.
O reinado de Tullo caracterizou-se pela busca ativa de conflitos que justificassem a expansão territorial. Sua primeira e mais significativa campanha dirigiu-se contra Alba Longa, a cidade-mãe de Roma. O pretexto surgiu de disputas por gado entre camponeses das duas cidades, mas Tullo habilmente transformou este incidente menor numa questão de honra nacional. Enviando embaixadores para exigir reparações e distorcendo deliberadamente suas respostas, conseguiu o casus belli que desejava.
A guerra contra Alba Longa produziu um dos episódios mais memoráveis da história romana: o combate dos Horácios e Curiácios. Passa que, antes que os exércitos albanos e romanos iniciassem as hostilidades, Mézio Fufezio, então ditador de Alba, propôs que o confronto fosse resolvido numa batalha de apenas três contra três. Ocorreu então um duelo entre dois trios de irmãos gêmeos de ambos os lados — os Horácios romanos e os Curiácios albanos. A vitória do último Horácio sobrevivente, conquistada através de estratégia brilhante após ver seus irmãos mortos, selou a submissão albana e estabeleceu um precedente de que Roma triunfava mesmo nas circunstâncias mais desesperadoras.
Alba, no entanto, não aceitou facilmente a submissão: durante uma campanha posterior contra Veios e Fidene, Mézio decidiu por armar um complô contra Roma. A perfídia albana — manter suas tropas em posição neutra para aderir ao lado vencedor — constituía uma violação intolerável dos juramentos de vassalagem. A resposta de Tullo foi exemplar em sua crueldade: após vencer sozinho a guerra, ordenou que Mézio fosse divido ao meio por carruagens puxadas em direções opostas. Simultaneamente, decretou a destruição de Alba Longa, transferindo toda a população para Roma e quase duplicando a população da cidade.
A morte de Tullo Hostilium em 641 a.C. ocorreu de forma dramática e foi interpretada como castigo divino. Uma epidemia atingiu Roma, afetando até mesmo o rei guerreiro, que pela primeira vez se viu obrigado a dedicar atenção aos aspectos religiosos do governo. Durante uma tentativa de realizar um ritual de purificação a Júpiter Elicius para acabar com a peste, Tullo cometeu algum erro na preparação ou execução da cerimônia. A tradição relata que foi fulminado por um raio junto com seu palácio, interpretando o evento como manifestação da ira divina contra sua negligência dos preceitos religiosos. Esta morte simbolizou a tensão constante entre o ardor guerreiro e o escrúpulo religioso que caracterizaria toda a história romana.