c. 745 a.C. – 673 a.C.
Numa Pompílio nasceu por volta de 745 a.C. na cidade sabina de Cures, situada a cerca de cinquenta milhas a nordeste de Roma. A tradição, registrada por Plutarco, sugere que seu nascimento teria coincidido com a própria fundação de Roma — uma sincronia que os antigos interpretavam como presságio de seu destino excepcional. Filho da aristocracia sabina, cresceu num ambiente onde a religiosidade e a observância dos costumes ancestrais moldaram profundamente seu caráter. As fontes antigas concordam em descrever Numa como um homem ponderado e devoto.
Após a misteriosa morte de Rômulo em 715 a.C., Roma enfrentou seu primeiro interregno. Os cem senadores alternavam-se no governo a cada cinco dias, mas esta situação logo se mostrou insustentável, pois a plebe, habituada à autoridade de um único rei, começou a lamentar-se de ter agora cem mestres em lugar de um só. Quando a tensão atingiu seu ápice, o senado tomou a decisão de oferecer ao povo o direito de eleger um novo rei, reservando-se apenas a ratificação da escolha. O gesto foi tão bem recebido que o próprio povo, para não ser vencido em generosidade, pediu que fosse o senado a determinar quem deveria reinar.
Tendo em vista a recente ferida aberta pelo rapto das sabinas, o senado achou prudente eleger um sabino. O nome de Numa Pompílio emergiu então das deliberações: sua reputação de homem justo e religioso o tornava uma escolha ideal para pacificar ambos os povos. Tito Lívio descreve-o como "espiritualmente inclinado à virtude por sua disposição natural", um homem cujo senso de justiça e religiosidade despertava respeito unânime.
Ao ascender ao trono, encontrou uma cidade habituada à guerra e à rapina, cujos habitantes, moldados pela era fundacional de Rômulo, tinham na violência e na expansão territorial seus principais valores. O novo rei compreendeu que "pessoas que passam a vida entre uma guerra e outra não conseguem adaptar-se facilmente" às leis e à civilidade.
Sua primeira grande inovação foi a criação do Templo de Jano, erguido como símbolo permanente do estado da cidade: quando suas portas estivessem abertas, Roma estaria em guerra; quando fechadas, a paz reinaria sobre a urbe. Logo após assegurar por alianças a boa disposição de todas as populações vizinhas, Numa fechou solenemente o templo — gesto que não se repetiria por séculos. Percebendo que a paz prolongada poderia enfraquecer o espírito guerreiro do povo, concebeu um plano magistral: fortalecer a devoção religiosa e instilar nos romanos "um temor reverencial pelos deuses". Esta não foi meramente uma reforma superficial, mas uma completa transformação da vida espiritual romana através do estabelecimento de rituais religiosos.
Estabeleceu os colégios sacerdotais fundamentais — os Pontífices, guardiões da tradição religiosa e jurídica; os Sálios, sacerdotes dançantes de Marte encarregados dos ritos guerreiros; e as Vestais, virgens consagradas ao culto do fogo sagrado. Reformulou o calendário, criando um sistema que regularia todo o ciclo religioso e social romano. Codificou os rituais, estabelecendo formas precisas para o culto divino e criando um corpus de práticas que perduraria por séculos.
Numa morreu em paz no ano de 673 a.C., após quarenta e três anos de reinado — o mais longo da monarquia romana. Sua morte natural contrasta dramaticamente com os reinados belicosos que se seguiriam, estabelecendo um paradigma de autoridade justa que permaneceria no imaginário romano. Se Rômulo criou a cidade, Numa criou a civitas, a comunidade política ordenada pelo direito e pela religião.