c. 700 a.C. – 660 a.C.
Públio Horácio era um dos trigêmeos romanos que viveram durante o reinado de Tullo Hostilium, por volta de 660 a.C. Cresceu em Roma, junto de seus dois irmãos gêmeos e de sua irmã, num período em que a cidade buscava afirmar sua supremacia sobre os povos vizinhos, particularmente sobre Alba Longa, a cidade-mãe dos romanos.
Quando uma disputa sobre gado roubado escalou para um conflito entre Roma e Alba Longa, Mezio Fufezio, ditador de Alba, propôs uma solução que evitasse o derramamento de sangue em larga escala. Alertou que povos tão próximos e de mesma origem não deveriam guerrear por razões tolas, especialmente com a ameaça etrusca observando e esperando para atacar ambos após se exaurirem em batalha. Ficou então acertado que o destino de ambos os povos seria decidido por um combate representativo.
A sorte quis que em ambos os exércitos houvesse irmãos trigêmeos de idade semelhante. Os três Horácios lutariam pelos romanos, enquanto os três Curiácios representariam os albanos. O povo vencido se submeteria ao vencedor através de tratado solene.
No início do combate, dois dos irmãos de Horácio caíram mortalmente feridos, deixando-o sozinho contra três adversários. Os Curiácios, porém, também carregavam ferimentos. Horácio, percebendo que não poderia derrotar os três simultaneamente, mas teria chances contra cada um individualmente, adotou uma estratégia: começou a correr, calculando que cada albano o perseguiria com a velocidade que suas feridas permitiriam.
A tática funcionou. Os Curiácios atacaram de maneira desorganizada, separados pela diferença de mobilidade que seus ferimentos impunham. Horácio pôde então enfrentá-los e derrotá-los um após o outro. Quando o corpo do último albano caiu ao chão, o jovem romano foi ovacionado pela multidão, assegurando a supremacia de Roma sobre Alba Longa sem necessidade de batalha geral.
No retorno triunfal, contudo, a irmã de Horácio reconheceu sobre os ombros do irmão o manto militar de seu noivo — um dos Curiácios mortos — e caiu em lágrimas repetindo o nome do falecido. Seu choro, precisamente no momento de triunfo público pela vitória, irritou profundamente Horácio. Ainda de sangue quente após a batalha e enlutado pela morte de seus irmãos, o jovem impetuoso sacou a espada e atravessou a irmã, dizendo: "Assim pereça toda romana que chore por um inimigo!"
O terrível crime pareceu horrível aos senadores e ao povo, mas isso foi contraposto à bravura demonstrada horas antes. Após prenderem Horácio, hesitavam em aplicar a lei e punir com a morte o homem que conquistara a supremacia romana sobre Alba. O debate ficou resolvido depois do testemunho do pai de Horácio, que implorou ao povo para não vê-lo separado de seu último filho — ele que até pouco tempo atrás via-se cercado por uma notável prole. Incapazes de resistir às lágrimas do pai e ao peso das proezas do filho, deram absolvição a Horácio com a condição de que oferecesse sacrifícios expiatórios por seu crime.