Ancus Marcius

Nascimento e Morte

c. 671 a.C. – 616 a.C.

Descrição
Feitos
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Ancus Marcius nasceu por volta de 671 a.C. em Roma, sendo neto materno de Numa Pompílio através de sua filha Pompília. Esta linhagem prestigiosa conectava-o diretamente ao segundo rei, conhecido por sua sabedoria e piedade religiosa, conferindo-lhe desde o nascimento uma aura de legitimidade dinástica e expectativa de governança equilibrada.

Quando Tullo Hostilium morreu em 641 a.C., Ancus foi o nome que emergiu nas deliberações para eleger o novo rei. A eleição de Ancus Marcius representou uma escolha deliberada de retorno aos valores religiosos após o reinado militarmente intenso de Tullo Hostílio. O senado e o povo romano viram em Ancus a promessa de um rei que herdasse a sabedoria de Numa. Esta expectativa moldaria completamente seu reinado, forçando-o a equilibrar a ação militar com a contemplação religiosa.

Ancus iniciou seu reinado recompondo os ritos e instituições religiosas que haviam sido negligenciados durante o período belicoso anterior. Ordenou que o pontífice máximo transcrevesse e expusesse publicamente os textos religiosos de Numa Pompílio, garantindo que nenhum ritual fosse executado incorretamente ou esquecido pela população. Esta medida demonstrava sua compreensão de que a coesão social romana dependia fundamentalmente da observância religiosa adequada. Contudo, sua piedade inicial foi rapidamente testada pelas circunstâncias políticas.

Os povos latinos, interpretando erroneamente a religiosidade de Ancus como fraqueza militar, começaram a realizar incursões no território romano, calculando que um rei devoto jamais responderia com violência. Esta percepção equivocada provocou uma guerra com os latinos, que se tornou o episódio definidor do reinado de Ancus. A campanha contra os latinos revelou as qualidades militares de Ancus, que conquistou sucessivamente várias cidades latinas, incluindo Politorium, Tellene, Ficana e Medullia. Sua estratégia caracterizou-se pela integração sistemática dos povos conquistados: em vez de destruir as cidades capturadas, transferia suas populações para Roma, estabelecendo-as no Monte Aventino e concedendo-lhes cidadania romana. Esta política de inclusão, seguindo o modelo estabelecido por Rômulo, expandiu significativamente a base demográfica e criou precedentes para a futura expansão imperial romana.

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Com os recursos obtidos através das conquistas militares, Ancus empreendeu grandes projetos de infraestrutura que transformaram Roma numa verdadeira potência urbana. A construção da primeira ponte do Tibre — a famosa Ponte Sublícia — conectou Roma com o território transtiberino e facilitou o comércio e a comunicação com as regiões etruscas. Simultaneamente, fundou o porto de Óstia na foz do Tibre, estabelecendo o acesso marítimo que permitiria a Roma tornar-se uma potência mediterrânea.

O crescimento populacional resultante das conquistas e migrações criou novos desafios administrativos que Ancus enfrentou com pragmatismo. Construiu a primeira prisão romana próxima ao fórum para conter o aumento da criminalidade numa população em rápida expansão. Estabeleceu fortificações defensivas nas colinas Janículo e Aventino, criando um perímetro defensivo mais amplo que protegia tanto o núcleo urbano quanto os novos bairros. Escavou ainda o fosso dos Quirites entre o Célio e o Palatino, criando uma barreira defensiva adicional.

Ancus morreu em paz em 616 a.C., após vinte e cinco anos de reinado próspero e transformador. Antes de morrer, nomeou como tutor de seus filhos um estrangeiro etrusco chamado Lucumone (futuro Tarquínio Prisco), que nos últimos anos mudar-se para Roma e vinha progressivamente ganhando sua confiança. Ancus foi um dos reis mais admirados da tradição romana, e Tito Lívio diz de seu temperamento que era "perfeitamente equilibrado" — um modelo para futuros líderes que buscassem equilibrar as demandas conflitantes da guerra e da paz.