Roma, 715 a.C.
Roma gozou anos de paz e tranquilidade após a união com os sabinos. O reinado que começara em violência — com o fratricídio de Remo e o rapto das sabinas — transformara-se em período de estabilidade e crescimento.
O fim desse reinado, contudo, foi tão extraordinário quanto sua fundação. Durante uma assembleia no Campo de Marte, em que Rômulo passava revista às tropas, uma violenta tempestade abateu-se sobre o local. Trovões ensurdecedores e uma escuridão súbita envolveram o rei. Quando a tempestade cessou e o sol voltou a brilhar, Rômulo havia desaparecido.
A multidão ficou atônita. Alguns senadores que estavam próximos ao rei contaram ter visto Rômulo ser arrebatado para o céu numa nuvem. Esta versão oficial do desaparecimento rapidamente se espalhou pela cidade. Circularam, porém, rumores menos edificantes: sussurrava-se que os senadores, cansados do rei, teriam aproveitado a confusão da tempestade para assassiná-lo e esquartejar seu corpo, carregando os pedaços escondidos sob suas togas.
Enquanto Roma permanecia em luto e incerteza sobre o destino do fundador, um cidadão respeitado chamado Proculus Júlio dirigiu-se à assembleia. Declarou solenemente que Rômulo lhe aparecera numa visão naquela mesma manhã, descendo do céu com aspecto ainda mais augusto e venerável do que em vida. O rei divinizado teria ordenado que dissesse ao povo romano que era vontade dos deuses que Roma se tornasse a capital do mundo, e que os romanos deveriam cultivar as artes militares, sabendo que nenhum poder humano poderia resistir-lhes.
O testemunho de Proculus Júlio — homem de reputação inatacável — dissipou as suspeitas e acalmou o povo. Rômulo foi então venerado como deus sob o nome de Quirino, e um templo lhe foi dedicado no monte Quirinal. Sua morte misteriosa reforçou a crença na origem divina de Roma e na proteção especial que os deuses conferiam à cidade.
O primeiro rei deixara herança monumental: a fundação da urbe, a organização política com o senado de cem patres e a aristocracia patrícia, a união com os sabinos, o primeiro templo dedicado a Júpiter Feretri, a divisão da população em trinta Cúrias e a consolidação de Roma como potência militar no Lácio. Com sua morte no ano de 715 a.C., após trinta e sete anos de reinado, iniciou-se o primeiro interregno da história romana.