Eleição de Numa Pompílio

Roma, 715 a.C.

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Com o desaparecimento de Rômulo, Roma enfrentou seu primeiro interregno. Os cem senadores alternavam-se no governo, cada um governando por cinco dias consecutivos antes de passar o poder ao seguinte. Esta situação, contudo, logo se mostrou insustentável. Tito Lívio diz que "a plebe, habituada à autoridade concentrada de um único rei, começou a lamentar-se de ter agora cem mestres em lugar de um só". A insatisfação crescia e ameaçava a estabilidade conquistada durante o reinado anterior.

Quando a tensão atingiu seu ápice, o senado tomou uma decisão que estabeleceria precedente fundamental para a sucessão régia romana. Ofereceu ao povo o direito de eleger um novo rei, reservando-se apenas a ratificação da escolha. O gesto foi recebido com tal entusiasmo que o próprio povo, para não ser vencido em generosidade, pediu que fosse o senado a determinar quem deveria reinar.

Tendo em vista a ferida ainda aberta pelo rapto das sabinas — episódio que, embora resolvido pela união dos povos, deixara ressentimentos — o senado julgou prudente eleger um sabino. O nome de Numa Pompílio emergiu das deliberações. Oriundo da cidade sabina de Cures, Numa desfrutava de reputação excepcional por seu senso de justiça e religiosidade. As fontes antigas concordam em descrevê-lo como homem "espiritualmente inclinado à virtude por sua disposição natural". Sua fama de sabedoria e devoção aos deuses o tornava escolha ideal para pacificar romanos e sabinos definitivamente.

Assim que o nome de Numa foi proposto, os senadores decidiram unanimemente confiar-lhe o reino. A escolha representava mudança radical em relação ao reinado anterior: enquanto Rômulo fora o rei guerreiro que fundara a cidade pela força das armas, Numa seria o rei da paz e da organização religiosa.

Ao ascender ao trono, Numa encontrou uma cidade habituada à guerra e à rapina. Os habitantes de Roma, moldados pela era fundacional de Rômulo, tinham na violência e na expansão territorial seus principais valores. O novo rei compreendeu que "pessoas que passam a vida entre uma guerra e outra não conseguem adaptar-se facilmente" às leis e à civilidade. Reconheceu que precisaria transformar não apenas as instituições, mas o próprio espírito do povo romano, redirecionando sua energia marcial para a observância religiosa e a construção de uma ordem jurídica duradoura.